Kléber Nascimento teve o primeiro intérprete na faculdade.
Hoje ele é
pedagogo e professor de Libras.

Hoje como professor, Kléber é um exemplo para
muitos
(Foto: Hudson Pimentel/G1 RO)
“Na escola eu nunca tive intérprete e não conhecia nada de Libras”, diz
Kléber Nascimento Santos sobre as dificuldades que passou na vida acadêmica por
ser surdo. Hoje Kléber é pedagogo e professor de Língua Brasileira de Sinais em
Ji-Paraná,RO.
Durante uma das aulas de Libras para mais de 20 alunos, Kleber Nascimento, de
33 anos contou ao G1 sua história de vida.
Segundo Kléber, os desafios começaram cedo pra ele. Logo depois do parto foi
descoberto que o menino nasceu cego e surdo. A mãe dele, Ide Nascimento,
atualmente com 63 anos, sofria de hipertensão arterial e o filho ficou com as
sequelas de uma crise na hora do nascimento. A cegueira foi revertida e a
criança recuperou a visão, mas a surdez permaneceria pela vida toda.
Aos sete anos Kléber teve que se adequar às aulas dadas pelos professores
tradicionais da época. “A metodologia deles era dar aulas mais explicativas com
texto no quadro. Eu tentava interagir com meus colegas observando como eles
faziam os exercícios e assim fui aprendendo”, relembra.
Foi olhando e aprendendo que conseguiu chegar à quinta série. Kléber lembra
que o desempenho escolar era cobrado pelos professores, mas ele não tinha
possibilidade de um bom rendimento como as outras crianças. “Sofri muito porque
eram 10 disciplinas, cada uma com um professor com um jeito diferente de
lecionar, mas todos cobravam para estudar mais”, comenta.
A surdez na adolescência o fez deixar as brincadeiras com os amigos de lado e
se aproximar mais dos familiares. Era em casa com a ajuda dos pais e dos irmãos
que Kléber contava para rever o conteúdo das aulas. “Quando acabava a aula você
acha que eu ia brincar com os amigos? Que nada, eu pedia aos meus pais e meus
dois irmãos que me ajudassem, eram horas e horas de estudo”, diz.
O empenho do único garoto surdo da sala deu resultado. Com notas acima dos
demais, o aluno se tornou referência e passou de ajudado para ajudante. “Acabei
servindo de exemplo para os outros. Os professores me parabenizavam e
perguntavam: vocês que são ouvintes estão perdendo para o Kléber que é surdo?”,
comenta Kléber que completa: “eu questionava a mesma coisa, como posso estar
melhor se eles ouvem?”.
Após dois vestibulares, sem intérpretes, ele ingressou em uma faculdade de
pedagogia e passou o primeiro semestre como nas primeiras aulas quando era
menino. “No primeiro dia de aula quando eu coloquei a mão na orelha pra
demonstrar que era surdo, meu professor fez uma cara como quem dizia, e agora?”,
brinca.

Olga, primeira intérprete de Kléber na
faculdade
(Foto: Hudson Pimentel/G1 RO)
“No início do segundo semestre conheci a Olga, foi um alívio”, comenta Kléber
se referindo à Olga Maria da Mota, professora de Libras que deixou de ensinar na
rede pública para ajudá-lo. “Eu o acompanhei pelos três anos e meio da
faculdade, eu meio que me formei novamente com ele”, diz Olga.
O começo, segundo a professora, não foi fácil porque a novidade acabava
chamando mais a atenção do que as aulas. “No início era meio constrangedor
porque era novidade ter um intérprete. Às vezes deixavam de ver o professor pra
ficar me olhando”, lembra.
Segundo Olga, nas primeiras aulas os alunos duvidavam se aquilo que ela dizia
era realmente o que Kléber expressava. “Quando tinha apresentação de algum
trabalho é que a coisa ficava boa, ele me dizia por Libras e eu apresentava à
classe que ficava boquiaberta”, explica.
Formado em pedagogia e professor na primeira escola bilíngue de Rondônia,
Kléber dá aula de Libras para crianças surdas e para professores. “Hoje sou
muito grato aos meus pais, irmão e aos meus professores que tiveram paciência e
me ajudaram a ser o que sou hoje”, ressalta.
Kléber lembra que aula de Libras é muito importante e quem fizer poderá
ajudar outras pessoas no futuro. “Da mesma forma que eu me esforcei pra ler e
escrever gostaria que se esforçassem para aprender Libras, assim poderemos nos
comunicar melhor”, finaliza.
Ao final da história interpretada por Olga, Kléber foi ovacionado sob os
aplausos silenciosos da turma.
Que ele seja um exemplo aos demais Surdos!
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