Apae de Mogi das Cruzes atende atualmente 620 alunos e presidente diz que é preciso construir uma nova sede (Foto: Pedro Carlos Leite/G1)
Os alunos da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Mogi das Cruzes, na Região Metropolitana de São Paulo, voltaram às aulas nesta quarta-feira (30). São 620 crianças e adultos que têm à disposição acompanhamento educacional e de saúde, contando com profissionais de diferentes áreas para que os atendidos possam desenvolver seu potencial e superar seus limites. Porém, o serviço não consegue atender à demanda da cidade. Há 89 crianças na fila, à espera de vagas. Nas outras sete cidades do Alto Tietê que têm Apaes, apenas em uma não há déficit de vagas. Somando-se as filas de espera nas Apaes da região, há 556 crianças e adultos esperando atendimento.
Alfredo Casella, presidente da Apae, diz que o principalobjetivo da entidade é "tornar a pessoa últil para si mesma" (Foto: Pedro Carlos Leite/G1)
O presidente da Apae mogiana, Alfredo Casella, diz que o principal motivo que impede a entidade de atender todos que a procuram é a falta de espaço. “Estamos instalados no mesmo terreno desde 1969. O prédio já foi aumentado várias vezes e agora chegamos ao limite do espaço. Não temos mais para onde crescer. Estamos lutando para conseguir um terreno novo. Algumas pessoas e a prefeitura estão nos ajudando a localizar uma área. Vamos precisar da conscientização dos grandes empresários para construir um novo prédio”, afirma. A entidade já elaborou o projeto de um novo prédio, que teria de 7 a 8 mil metros quadrados e que absorveria essa demanda que está esperando por vaga. “Atualmente uma vaga só é aberta quando um paciente muda de cidade, fica doente ou falece”, explica Casella.
Déficit de vagas das Apaes do Alto Tietê
| Cidade | Quantos alunos | Fila de espera |
|---|
| Arujá | 201 | 25 |
| Biritiba Mirim | 126 | 0 |
| Ferraz de Vasconcelos | 87 | 100 |
| Itaquaquecetuba | 239 | 200 |
| Mogi das Cruzes | 620 | 89 |
| Poá | 176 | 80 |
| Santa Isabel | 12 | 32 |
| Suzano | 184 | 30 |
Números apontam que a população que necessita de atendimento especial na cidade seria muito maior. Baseado em estatísticas da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o presidente da Apae estima que cerca de 2.170 pessoas em Mogi das Cruzes tenham algum tipo de deficiência intelectual. “Um dos problemas é que muitas destas pessoas estão 'enrustidas' em casa. A família tem vergonha de sair na rua com eles e a criança não se desenvolve. Nosso maior objetivo é que a pessoa com deficiência seja útil para ela mesma, que tenha a sua independência para as tarefas básicas”, explica.
A entidade recebe atualmente ajuda da prefeitura. “Nós recebemos verba para a parte educacional e com ela pagamos os salários dos profissionais. Mas não temos verba para a parte de saúde e de assistência social às famílias. Por isso fazemos eventos para levantar fundos, como caminhadas e jantares”, conta Casella.
A associação conta também com uma sede rural, instalada na Vila Moraes, onde são atendidas 50 pessoas, a maioria pacientes com idade acima de 30 anos. Lá também é feito o trabalho de equoterapia, em que os pacientes montam em cavalos para desenvolver a coordenação motora.
Opinião dos pais
A dona de casa Cristina Aparecida da Silva Reis é mãe do garoto Caio, que tem 13 anos e é aluno da Apae de Mogi das Cruzes desde 2006. “Meu filho teve hidrocefalia e na Apae ele faz aulas na piscina, tem consultas com a fono, faz aula de música e de esporte. Desde quando ele entrou eu percebo que o Caio se desenvolveu bastante no raciocínio e na independência. Mas antes de conseguir vaga, o Caio ficou quatro anos na fila”, conta Cristina. Ela é moradora de Poá e seu filho é um dos cerca de 50 moradores de outras cidades que são atendidos pela Apae de Mogi por meio de convênio com as prefeituras locais.
Já o aposentado Nelson Ramos da Silva conseguiu vaga para seu filho Diego, portador da Síndrome de Down, há muito tempo. “Ele tem 23 anos e desde quando ele tinha um ano de idade ele está aqui na Apae. Ele tem aulas na escola especial, faz natação e vai entrar na aula de marcenaria. Ele teve bastante progresso e hoje é bastante independente”, conta o pai do rapaz.
Sem vagas
A comerciante Adriana Cristina de Macedo é mãe de Larissa, que tem 22 anos, e aguarda por uma vaga na Apae de Santa Isabel. “Ela fica comigo na minha loja e me acompanha o tempo todo. A Larissa fica sentada em um canto e eu dou coisas para ela escrever e desenhar, mas ela precisa desenvolver a coordenação motora dela, que é muito fraca”, conta a mãe.
Adriana conta que a filha entrou na Apae de Santa Isabel quando tinha quatro anos e ficou lá até os oito anos. Nessa época, a família se mudou para Arujá e a menina foi transferida para a Apae dali, onde ficou até completar 18 anos. “Aí fecharam a escola especial e as crianças tinham que ir para a escola normal. Mas eu não vou colocar a Larissa de jeito nenhum numa escola normal, porque ela sofreria bullyng, no mínimo, senão coisa pior. Ela está com a capacidade intelectual de uma criança de seis anos. Minha filha foi diagnosticada com retardamento avançado, ela não tem noção do que é certo ou errado. Queriam que ela fizesse telecurso para o conteúdo do quinto ano do Ensino Fundamental. Ela não tem condições”, alega a mãe.
A menina está desde o ano passado na fila para entrar novamente na Apae de Santa Isabel. “Mas já me disseram que vai demorar bastante”, conta.
Adriana lamenta a demora e a falta de tratamento adequado para sua filha. “Na escola especial eles trabalhavam muito com a mente dela e a gente via um avanço. Ela era uma criança que não falava, depois da Apae ela começou a falar. Hoje eu vejo ela sozinha, sentada. Não é isso que eu quero pra ela”.
Profissionais e voluntárias trabalham na alimentação de crianças na apae de Mogi das Cruzes (Foto: Pedro Carlos Leite/G1)
O que dizem as Prefeituras
O G1 entrou em contato com todas as prefeituras para questionar o que pode ser feito para melhorar a situação das Apaes. Até as 18h27 desta quarta-feira (30) as prefeituras de Arujá, Poá, Biritiba Mirim e Santa Isabel não enviaram resposta.
Suzano
A prefeitura de Suzano irá receber a diretoria da Apae na próxima sexta-feira (1º) em uma audiência para discutir o que pode ser feito. A vice-prefeita, Viviane Galvão, realizou uma reunião com o presidente da entidade, João Jurandir Simões Júnior, e a tesoureira, Conceição Aparecido Passo Medeiro, no dia 24 de janeiro.
Itaquaquecetuba
A prefeitura tem três projetos com a Apae, entre eles o Alcance e o CIS. Há também o "Piso de Transição de Média Complexidade". No Projeto Alcance são promovidas ações de prevenção, orientações e prestação de serviços com atendimento técnico biopsicossocial e pedagógico, apoio à família direcionados na melhoria da qualidade de vida da pessoa com deficiência.
Já no Centro de Inclusão Social (CIS) o objetivo é atender a população, sendo que 70% das vagas são para pessoas com deficiência física, auditiva, visual, intelectual e/ou múltiplas maiores de 14 anos. Este projeto visa à socialização, autonomia, qualificação para o trabalho e geração de renda.
A prefeitura não informou se há outros projetos para ajudar a instituição.
Mogi das Cruzes
A prefeitura repassa anualmente para a APAE de Mogi subvenção para o atendimento de 550 alunos. Neste ano serão repassados R$ 3.563.214,00. É feito um trabalho em conjunto entre a instituição e a administração municipal para o atendimento dos alunos com necessidades especiais. Pela prefeitura, o atendimento de alunos deficientes, que estudam em escolas regulares em inclusão é feito pelo Pró-Escolar (Centro de Atendimento ao Portador de Necessidades Educacionais Especiais Ricardo Strazzi) e a Escola Municipal de Educação Especial (Emesp) Profª Jovita Franco Arouche, que também oferece educação especial exclusiva e é referência no atendimento a autistas na região.
No Pró-Escolar, os alunos são atendidos por psicólogos, psicopedagogos, fonoaudiólogos e fisioterapeutas divididos em equipes de intervenção (atendimento no prédio-sede) e avaliação (avaliação nas escolas). O Centro também promove atividades educacionais especiais para deficientes visuais e auditivos e orientação para pais e professores.
Ferraz de Vasconcelos
Os subsídios no município estão atrasados. A nova gestão da prefeitura disse que o recurso referente ao mês de outubro foi pago em janeiro. A Apae recebeu R$ 18,5 mil. De acordo com a administração municipal em algumas semanas os subsídios de novembro e dezembro serão quitados.
Guararema e Salesópolis não contam com Apaes, mas há serviços disponíveis para portadores de necessidades especiais.
Guararema
Há a Escola Municipal de Educação Complementar “Adibe Sayar Daher”. Com capacidade para atender centenas de alunos que apresentem dificuldades e deficiências que limitem o aprendizado, a Escola Municipal de Educação Complementar “Adibe Sayar Daher” tem como objetivo “complementar o ensino da escola regular para essas crianças e não substituir”, conforme reforçou a secretária de Educação, Edna Mattos.
O prédio que abriga a escola foi projetado com acessibilidade total e possui salas para acompanhamento médico, espaços para prática esportiva incluindo piscina e atividades culturais – música e dança, além de profissionais como psicólogo, pedagogo, psicopedagogo, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, educador físico, entre outros, todos admitidos em concurso público e capacitados por profissionais da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD).
Atualmente mais de 70 alunos frequentam a Escola Municipal de Educação Complementar na cidade.
Salesópolis
Oferece o Atendimento Educacional Especial (AEE). É um programa que funciona com quatro polos, sendo três nas Emeis e, um nas Emefs. Os alunos portadores de necessidades especiais fazem aulas na rede convencional de educação e no contraturno são atendidos pelo programa, que oferece atendimento de fonoaudiólogo e professores especializados em educação especial.
Além disso, a prefeitura oferece transporte para as crianças da cidade que são conveniadas na Apae de Mogi das Cruzes.
