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23/06/2012 10h45 - Atualizado em 23/06/2012 11h08
Promotor de Justiça da cidade protocolou uma ação de registro tardio. Neste sábado (23) faz dois anos que o surdo foi encontrado em rodovia.
O
homem mora há dois anos no SOS
de Itapetininga (SP) e não tem
identidade.
(Foto: Eduardo Ribeiro Jr./G1)
O homem surdo, analfabeto e sem identidade, que foi encontrado na rodovia
Raposo Tavares, há dois anos, em Alambari (SP), já tem um motivo para comemorar.
Um promotor de Itapetininga (SP)
entrou com uma ação para dar um novo nome para o deficiente auditivo.
O promotor de direitos humanos da cidade, José Roberto de Paula Barreira,
ficou sabendo do caso do surdo, que continua morando no Serviço de Obras Sociais
(SOS) em Itapetininga sem ter contato da família.
Sensibilizado, ele protocolou na 3ª vara cível da cidade uma ação de registro
tardio, que possibilita dar um novo nome para uma pessoa. O juiz responsável
pelo caso acabou acolhendo o pedido e há cerca de quatro meses, o homem surdo já
pode ser reconhecido como Carlos Prestes Albuquerque.
Segundo o promotor, a ação foi necessária para fazer com que o "Joca", como é
chamado carinhosamente pelos funcionários do SOS, pudesse ser reconhecido como
pessoa. "Eu fiz isso para que ele possa ter personalidade. Sem um nome, um
documento, não dá para ter acesso aos serviços públicos mais básicos, como ter
documentos pessoais, atendimento médico, carteira profissional, acesso à escola
e, até mesmo, um benefício do INSS", explica o promotor.
Barreira relata que o Ministério Público fez contato com diversos estados do
sul e sudeste do país solicitando alguma informação sobre o homem e sua família.
"Nós fizemos a leitura de digitais dele e encaminhamos para alguns estados para
tentar encontrar alguma informação sobre ele. De todos os estados que enviamos,
falta apenas um responder. Todos os outros não encontraram nenhum registro do
homem, inclusive São Paulo".
"Joca" brinca com a sua nova companheira,
a
cadela "Indy". (Foto: Eduardo Ribeiro Jr./G1)
O promotor explica que o nome que foi dado ao 'Carlos' é provisório e se não
encontrarem nenhum registro dele, o novo nome passará a ser definitivo. Ele
também ressalta que fizeram muita divulgação nos meios de comunicação desses
estados, mas que ainda não tiveram uma resposta positiva sobre sua origem ou
família.
O surdo, agora Carlos, passou por exames no Hospital Funcraf (Centrinho) de
Itapetininga. No exame foi constatado que o paciente realmente é surdo. "Os
exames apontam que ele não ouve absolutamente nada. Quando dizem que pode ouvir
sons muito altos, deve ser pela percepção, mas não pela audição", relata o
promotor.
Barreira ficou sabendo há oito meses sobre o caso e, desde
então, também está na tentativa de encontrar alguma informação sobre a família
dele. "Pode ser que a família esteja esperando por ele. Também pode ser que ele
esteja fora do seio da família há muito tempo e já não seja mais reconhecido
fisicamente pelos parentes. Pensamos também até na possibilidade dele ser de
outro país. Acho difícil por ter sido encontrado em uma região do estado que não
faz fronteira, mas também é uma possíbilidade. O nosso país já tem dimensões
continentais, o que pode prejudicar", fala.
José Roberto Barreira lembra que, quando foi encontrado, ele não aparentava
sinal de abandono.
O nome
O promotor conta que o nome escolhido tem um
significado. "O 'Carlos' é porque todos estavam chamando ele por esse nome,
inclusive os funcionários do abrigo onde está. Por causa dessa identificação,
resolvi deixar. O sobrenome 'Prestes Albuquerque' vem do ilustre morador da
cidade, o 'Júlio Prestes' [que foi eleito presidente do Brasil, mas não chegou a
tomar posse]. Nesses casos de registro tardio, sempre usamos um sobrenome que
faça referência à cidade", explica o promotor.
A história
O surdo que agora já pode ser chamado de
'Carlos Prestes Albuquerque' foi encontrado em uma propriedade rural às margens
da rodovia Raposo Tavares, em Alambari (SP), na noite de 23 de junho de 2010,
portanto, neste sábado (23), completa dois anos que ele está abrigado no SOS em
Itapetininga sem nenhuma informação sobre a família.
Quando foi encontrado, um instrutor de Libras de Sorocaba (SP), Alexandre dos
Santos, foi solicitado para tentar contato com ele e constatou que, além de
surdo, ele não fala por consequência da surdez e também é analfabeto, tanto da
Língua Portuguesa, quanto de Libras, e também não portava documentos pessoais, o
que dificultou qualquer tentativa de identificação do homem. Alexandre está
tentando alfabetizá-lo.
Muitos colaboradores, como o promotor e o instrutor de Libras, adotaram a
causa do surdo para tentar encontrar uma resposta. Agora, com um novo nome,
Carlos Prestes Albuquerque já pode ser reconhecido como um cidadão, e o que
todos querem é conhecer a sua história.
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